A Unilever tem um plano para reduzir pela metade o impacto ambiental de seus produtos até 2030. De 2008 a 2016, as fábricas do grupo em todo o mundo conseguiram evitar custos superiores a 700 milhões com a ajuda de medidas de ecoeficiência. Além disso, o programa de gestão de resíduos evitou gastos de cerca de 250 milhões (ano base 2008), disse Antonio Calcagnotto, vice-presidente da área de assuntos corporativos e sustentabilidade da Unilever e presidente da Abipla, associação que reúne as indústrias de produtos de limpeza.
Calcagnotto afirma que 31% da energia utilizada nas instalações globais do grupo Unilever provém de fontes renováveis. A iniciativa da companhia é liderada por seu executivo-chefe mundial, o holandês Paul Polman, que lançou em 2010 o projeto de crescimento sustentável com metas para os 20 anos seguintes, levando em consideração os objetivos da ONU de combate à pobreza e de frear a mudança descontrolada do clima.
“Paul [Polman] vem pedindo que as empresas, independentemente de agentes públicos, mantenham seus compromissos. Ele diz que não é questão de ser bonzinho, todos têm que pensar isso porque amanhã vai faltar recursos e o consumidor vai sofrer”, disse Calcagnotto.
No Brasil, Calcagnotto diz que a Unilever está liderando a agenda de coalizão empresarial de embalagens pós-consumo para resíduos sólidos, com a participação de 23 setores. A melhora dos processos na empresa, com redução de retrabalho e de desperdício, diminuiu o consumo energético.
O desafio global até 2030 é ser carbono positivo — consumir menos do que gera de carbono —, o que requer a compra de energia renovável. Para isso, as fábricas precisam de auto geração. O executivo disse que no Brasil a empresa tem um projeto piloto de energia fotovoltaica. Só gera energia para a área de administração da fábrica, mas, segundo o executivo, indica a tendência, já que o objetivo é encontrar soluções, não necessariamente de auto geração, mas de ter carbono positivo. Tudo isso, segundo Calcagnotto, está ligado à gestão de resíduos sólidos, por reduzir o desperdício.
Atualmente, o envio de resíduos das fábricas e escritórios da Unilever para aterros é zero, garante Calcagnotto. Tudo segue para reciclagem, compostagem ou reúso. Até as rebarbas e refugo da produção de sabonete, por exemplo, são vendidos para hotéis para fazer mini sabonetes. “Menos risco e custo, e até eventualmente ganhos”, diz Juliana Marra, gerente de assuntos externos e membro do comitê de sustentabilidade.
A fábrica ambientalmente correta da Unilever, em Aguaí, a 200 km do centro de São Paulo, capta água da chuva, gera energia e tem logística simplificada. Usa lâmpadas Led, as máquinas e ar condicionado emitem menos CO2 e o consumo energético é 50% inferior ao das demais fábricas do grupo no mundo.
A batalha na Unilever voltada para o material pós-consumo, envolvendo seus parceiros, começou em 2015, mas só está sendo anunciada agora. Até 2025, todos os materiais plásticos devem ser 100% recicláveis, reutilizáveis ou compostáveis. A Unilever tem o compromisso de concepção das embalagens e faz um trabalho mundial com vários setores para o consumidor fazer o reúso ou descarte correto, disse Juliana.
O compromisso do consumidor precisa ser regulamentado. “Pela norma, é uma responsabilidade compartilhada entre a indústria, o governo e a população. Sem a coleta seletiva, a roda não vai girar. Cada pessoa precisa separar [os resíduos], é um esforço coletivo”, diz Juliana.
Calcagnotto disse que a Unilever vem trabalhando com outras empresas, como Tetra Pak, HP, Coca-Cola e Nestlé, mas é preciso que companhias menores também participem. Das 70 empresas ligadas à Abipla, 21 estão no programa. Existem outras 2 mil empresas de limpeza no país, mas a adesão é voluntária, diz o executivo.
Os pontos de entrega voluntária de resíduos foram criados em 2001 e agora estão em 23 cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Goiás e Ceará, além do Distrito Federal. De 2001 a 2016 foram coletadas 100 mil toneladas de resíduos nesses pontos, diz Calcagnotto. A meta do governo é a reciclagem de 3 mil toneladas por dia.
O plano de reciclagem da francesa Danone, iniciado em 2011, é amparado em parcerias. O Programa Novo Ciclo, como foi batizado, tem como aliados o Instituto Nenuca de Desenvolvimento Sustentável (Insea), o Movimento Nacional dos Catadores, com seus 800 mil integrantes, e a Fundação Avina — criada pelo empresário suíço Stephan Schmidheiny, voltada ao desenvolvimento sustentável.
De todas as embalagens da Danone que chegaram no mercado em maio, a empresa conseguiu reciclar 60%, embora a meta da política seja de 22%, diz Mauro Homem, diretor de Assuntos Institucionais da Danone. A meta é alcançar 100% em 2019, o que equivale a cerca de 70 mil toneladas em um ano. A Danone recicla 35 mil toneladas de resíduos por ano. Em 2012 eram 5 mil toneladas.
A Danone trabalha mais diretamente com alguns materiais, como Tetra Pak, e pretende fazer o mesmo com garrafas Pet, para que voltem à cadeia de valores da empresa por meio dos coletadores. Os materiais são compactados nas cooperativas pelos coletadores e seguem em carreta para a recicladora da Tetra Pak, disse Homem. Lá, são separados o plástico, o papel e o alumínio ao processamento para gerar nova matéria-prima de embalagem.
As garrafas Pet deverão seguir o mesmo caminho. Hoje, são trituradas, lavadas, esterilizadas e passam por extrusão — são derretidas e viram bolinhas de plástico para produzir novas garrafas. O diretor disse que laboratórios estão analisando as amostras e, se validarem a qualidade, será acertado com os fornecedores para usar a matéria-prima para novas embalagens ainda neste ano.
O diretor da Danone, disse que 59 municípios de São Paulo e Minas Gerais já aderiram ao programa. De 2012 a 2016, a Danone investiu R$ 13 milhões e, para 2017, já comprometeu mais R$ 9 milhões oriundos da Fundação Avina. Os recursos são gerenciados Fundo Danone Ecosystem, que é global. “O principal objetivo não é o lucro”, diz o diretor, mas como se relacionar com o meio.” Ele disse que o trabalho busca reunir uma grande rede de diferentes cooperativas e que o atendimento à política de resíduos vai gerar benefícios em custos futuramente.
A Danone tem cinco iniciativas desse tipo no mundo e começou a expansão para outros países. Gana, na África, começa neste semestre. Mauro Homem disse que esteve no país africano para ajudar a montar o projeto.
“Não é um tema simples, transformar para ficar perene no negócio faz parte da coalisão empresarial de diferentes associações”, diz o diretor da Danone. “Temos que cada vez mais colocar o papel do consumidor, que é o grande elo de sucesso de uma iniciativa como essa. Temos de desviar os materiais de aterros e lixões.”
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Matéria original do "Valor Econômico"